Apesar de não ser tão comum assim falarmos sobre empatia no nosso quotidiano, na consulta de psicologia é tema recorrente. E cá fora também devia ser!
É comum que a empatia, a compaixão (apesar de caminharem de mãos dadas) e a simpatia sejam confundidas. É importante discernir estes conceitos para que possamos mais facilmente compreender a importância de cada um deles e como os promover junto de nós mesmos e dos nossos jovens.
A empatia é a capacidade de compreender o que os outros experienciam, refletindo de volta essa compreensão. Não é importante sentir empatia apenas porque é bonito: esta ajuda-nos a tomar decisões em conjunto com outros; a tomar decisões éticas e morais; a aumentar o nosso bem-estar; a fortalecer laços com quem nos rodeia; a compreendermos melhor como os outros nos percecionam e a aumentar comportamentos altruístas e pró-sociais.
Por sua vez, a compaixão, que necessita da empatia para existir, tem a ver com a forma como nos tratamos a nós mesmos e aos outros, de forma sensível e cuidadosa. No fundo, a compaixão envolve por norma uma ação, e a empatia é “apenas” sentida. Andam de mão dada porque sem empatia, não existe compaixão. Não poderemos acolher as necessidades de cada um, se não formos capazes de perceber a sua experiência interna.
A simpatia, por outro lado, não envolve necessariamente a empatia e a compaixão. Posso cumprimentar e sorrir para alguém, e isto pode ser considerado simpático, mas não precisei necessariamente de compreender a experiência interna do outro para o fazer. Por outro lado, a título de exemplo, se sei que um amigo está doente e lhe levo uma sopa para jantar, esta ação pressupõe compaixão (cuidar do outro ao levar-lhe uma refeição) e empatia (compreender que deve ser difícil para o meu amigo cozinhar quando está doente, ainda por cima numa semana em que está com tanto trabalho!). Não deixa de ter um quê de simpatia, mas envolve muito mais do que isso.
Leia ainda: Os ecrãs na família
Como está o outro e quais as suas necessidades?
Muitas vezes dizemos que ter empatia é colocarmo-nos no lugar do outro. Vou até mais longe, não é colocarmo-nos a nós no seu lugar. É imaginar como é que deve ser para a outra pessoa, estar naquele lugar.
Voltando ao exemplo acima: para o meu amigo pode ser difícil cozinhar quando está doente, e levar a sopa pode ajudá-lo. Mas podem existir pessoas que, em tal estado de vulnerabilidade, prefeririam ficar sozinhas e encomendar comida. Este é um exemplo de como é importante olhar para as idiossincrasias de cada indivíduo. É por isto que tenho tendência a torcer o nariz à frase “trata os outros como gostavas que te tratassem a ti” – compreendo o sentido e é um bom ponto de partida, mas e se aquilo que é importante para mim, for diferente para os outros? Colocarmo-nos esta pergunta, ajuda a ficarmos mais perto da empatia.
A verdade é que, como todas as competências socio-emocionais existentes, a empatia requer também experiência e ensaio. A nossa capacidade de a sentir e mostrar é impactada por variáveis genéticas e biológicas, mas também é muito dependente das nossas experiências de vida e das pessoas que nos servem de modelo.
Não é pouco comum que crianças mais pequenas tirem brinquedos umas às outras, que se batam e que pareçam indiferentes ao impacto que o seu comportamento tem nos outros. Na idade pré-escolar, se este tipo de atitude e comportamento não forem constantes e extremamente disruptivos, é esperado e normativo. O cérebro da criança não está ainda suficientemente desenvolvido no sentido da empatia e autorregulação emocional. Em termos de desenvolvimento, estas não são as tarefas esperadas desta fase.
Se isto quer dizer que devemos então deixar as crianças magoar os outros sem serem chamadas à atenção? Obviamente que não. Tendo em conta que, como já referido, aprendemos também pela modelagem, é importante que sejamos primeiramente um exemplo de empatia e respeito pelos outros. Para além disto, aprendemos também pelas consequências das nossas ações.
Se uma criança aprende que existe uma consequência sempre que faz determinado comportamento (os pais aumentam o tom de voz, é retirado o brinquedo, tem de sair do contexto momentaneamente), é provável que comece a diminuí-lo. No entanto, é importante manter em mente que mesmo esta aprendizagem é feita devagar, pelo que comportamentos “pouco empáticos” (esperados e normativos, não me canso de sublinhar) devem continuar a ser esperados.
O mais ajustado (deve ser ajustado à idade, claro) será dizer que determinado comportamento não está certo e magoa/deixa triste, zangado etc., assim como mostrar qual o comportamento esperado e correto. No entanto, ao longo do desenvolvimento é esperado que as crianças e jovens vão observando o mundo e que comecem a ter uma maior perceção do ponto de vista dos outros, assim como o impacto que os seus comportamentos têm neles.
Leia ainda: Desempenho académico e exigência em relação às notas
7 dicas para ajudar a fomentar a empatia e compaixão
Para ajudar, partilho algumas sugestões de atividades para fomentar a empatia e compaixão nos mais jovens (e em nós!):
- Escolher roupas, objetos e brinquedos que já não são utilizados e doar a uma pessoa, família ou associação escolhida em conjunto e a quem faça sentido entregar os pertences escolhidos;
- Conversar (tendo em atenção a idade e fase de desenvolvimento) sobre acontecimentos do mundo, refletindo sobre como será a experiência de quem passa por eles;
- Estar atentos às emoções e reações dos outros no quotidiano, conversando quando oportuno sobre aquilo que observamos (por exemplo, que emoção sentiu alguém, assim como o comportamento consequente, refletindo sobre possíveis motivos);
- Refletir sobre situações quotidianas em que alguém se sentiu e reagiu de forma diferente da criança, questionando-a sobre porque acha que terá sido assim para a outra pessoa; e tentando explorar como seria para si;
- Convidar, momento a momento, a que a criança reflita sobre o impacto que os seus comportamentos (tanto positivos como negativos, pois temos tendência a focarmo-nos nos últimos!) têm nos outros;
- Quando alguém próximo se encontra num momento difícil, refletir com a criança sobre como a pessoa se pode estar a sentir e o que poderíamos fazer para a ajudar a sentir-se melhor;
- Ensinar diariamente atitudes e comportamentos pró-sociais como a partilha, a escuta ativa, a compreensão, a bondade, a responsabilidade social, o ato de pedir desculpa e assumir erros, assim como o de perdoar (sempre que faça sentido, claro).
No fundo, a empatia e a compaixão são competências que merecem a nossa atenção, assim como a nossa intencionalidade, para que se desenvolvam diariamente. É importante não nos esquecermos que somos o maior exemplo das nossas crianças e que é fulcral que façamos um esforço ativo de promover este tipo de competências diariamente. Para que cresçam mais saudáveis a nível individual, mas também social. Porque um não existe sem o outro!
Leia ainda: Que pais e cuidadores desejamos ser este ano?