A tecnologia mudou para sempre o setor dos seguros e não há maneira de voltar atrás. De mãos dadas com os efeitos da pandemia (sobretudo do isolamento das famílias) houve uma revolução nesta área, incluindo na forma de pensar dos clientes.
“As coisas evoluíram muito nos últimos cinco anos, no pós-pandemia, graças às tecnologias”, começou por defender Marta Graça Ferreira, CEO da Real Vida Seguros, durante um painel que reuniu líderes do setor segurador, no âmbito da primeira Convenção da Rede Doutor Finanças.
Marta Graça Ferreira vai mesmo mais longe e diz que já “não se pode pensar em seguros sem tecnologia”, dado que “as coisas mudaram muito, um cliente faz um seguro de vida e já nem assina um papel”, remata a CEO da Real Vida Seguros.
Atualmente, nesta seguradora apenas 20% dos processos são tratados de forma manual, uma inovação sem bilhete de volta, de acordo com a opinião da executiva que acrescenta que os clientes receberam “muito bem” este passo em frente no setor.
Luiz Ferraz, Mandatário Geral da Prévoir em Portugal, vai mais longe e diz mesmo que “é preciso escravizar as tecnologias”, em nome do bem-estar dos trabalhadores. Isto porque, para o responsável, as tecnologias [funcionam] como meio de aliviar pessoas, sobretudo os administrativos nas emissões e admissões” de seguros, por exemplo.
Além das seguradoras, resseguradoras e clientes, a tecnologia de ponta também já abriu a porta dos reguladores. No final do ano passado, foi noticiado que a Autoridade de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) está a desenvolver um projeto para testar o uso de Inteligência Artificial na supervisão do setor.
Mas não foi apenas a tecnologia que gerou mudanças nos seguros, também a pandemia o fez, sobretudo do lado do cliente. “A pandemia colocou as pessoas a pensar. O tema da incerteza ainda existe”, refere Marta Graça Ferreira.
Ainda assim, continua a ser necessário propor ao cliente “produtos mais palpáveis” com coberturas de sinistro ainda em vida, por exemplo, como explica a CEO da Real Vida Seguros, que salientou ainda a necessidade de transmitir uma cultura de previdência, que assegure eventuais crises no futuro.
Também Rui Costa, administrador de seguros do Doutor Finanças, sublinhou a necessidade de transmitir esta cultura, ainda que reconheça a dificuldade de transmitir esta mensagem ao cliente.
“A pior coisa que acontece a uma família em Portugal é ter um evento de saúde com 60% do rendimento em que a casa tem de ser paga, e se não houver um seguro de vida ou houver perda de rendimento, a família acaba por entrar numa situação de défice”, reconhece o administrador do Doutor Finanças.
Assim, para Rui Costa é essencial “levar esta cultura de proteção de vida” e não só de constituição de um seguro em situações obrigatórias por lei – como é o caso da proteção automóvel ou de garantia em caso de morte, caso seja contratado um empréstimo para a compra de habitação.
Mas não basta os clientes terem esta consciência. A CEO da Real Vida vai mais longe e apela a mudança de mentalidade dos mediadores de seguros. “Se todos os mediadores tivessem agarrado esta cultura de previdência, as coisas já tinham” melhorado, defende Marta Graça Ferreira.
E se há coisas que devem mudar no setor, há outras que são intocáveis, ou melhor uma: a confiança. Até porque “o que mais leva as pessoas a fazer seguros é a confiança. São os primeiros 20 segundos que o agente tem para criar ou não confiança na pessoa”, de forma a fazer um seguro, sublinha Luiz Ferraz.
Por outro lado, o mandatário geral da Prévoir em Portugal recorda que uma vez ferida, é difícil restaurar esta relação de confiança entre cliente e seguradora.
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