A literacia financeira parece ser o ponto forte dos pequenos e médios empresários portugueses que lideram micro e pequenas empresas. Esta conclusão foi apurada no recente relatório promovido pelo Conselho Nacional de Supervisores Financeiros e pelo Ministério da Economia e do Mar, e publicado pelo Banco de Portugal.
De facto, de acordo com o referido documento os pequenos empresários portugueses apresentam dos maiores níveis de literacia financeira entre 14 países da Rede Internacional de Educação Financeira da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento na Europa (OCDE/INFE). Mais concretamente ocupam o primeiro lugar nas empresas até nove trabalhadores e segundo lugar nas empresas com 10 a 49 trabalhadores.
São resultados muito positivos e que importa manter. Mas vamos detalhar o que está em causa e o que os empresários portugueses podem melhorar
Literacia financeira: em que consiste?
Na definição do conceito, a Associação Portuguesa de Bancos dá uma ajuda, definido literacia financeira como o conhecimento e a compreensão de conceitos financeiros que resultam na capacidade de tomar decisões informadas no que se refere à gestão do dinheiro.
A importância da literacia financeira no dia a dia
A sua importância parece ser óbvia. Detendo os conceitos financeiros básicos de literacia financeira, mais facilmente desenvolverá hábitos de poupança, atitudes responsáveis face à contratação de crédito, e conseguirá interpretar notícias relacionadas com a economia.
De um modo geral diríamos que lhe permitirá gerir melhor o seu dinheiro, fazer investimentos adequados ao seu perfil de risco, contratar crédito sabendo quais os limites de endividamento que conseguirá suportar sem entrar em rutura financeira e por fim, mas não menos importante não se deixar enganar por entidades não autorizadas pelo Banco de Portugal que lhe oferecem dinheiro fácil.
Em suma, quanto maior for a sua a literacia financeira enquanto particular ou empresário maior será a sua capacidade de gerir de modo eficiente o seu dinheiro.
Porque devemos investir na educação financeira
Se a literacia financeira é importante no dia a dia de particulares e empresas a razão por que deve investir na educação financeira parecer ser também óbvia.
Se em termos pessoais se trata de gerir eficazmente o seu dinheiro, para a sua empresa ainda fará mais sentido.
Considere assim que deve investir na educação financeira porque:
1. Existem cada vez mais produtos financeiros no mercado
De facto, com o desenvolvimento tecnológico apareceram mais produtos financeiros. E cada vez mais complexos, o que pode tornar a sua compreensão mais difícil e com isso um maior risco. Já para não falar em criptomoedas, EFT´s, futuros e opções. O melhor mesmo é saber no que poderá estar a investir.
2. O futuro é incerto
Numa altura em que se assiste a um aumento da inflação e das taxas de juros, saber o que pode acontecer aos seus créditos e investimento é de primordial importância. E sobretudo saber como se pode defender sem pôr em causa a sua saúde financeira pessoal e da sua empresa.
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3. Um maior conhecimento permitirá melhores decisões
Para parece redundante, certo? Pois, mas quanto mais souber, melhores decisões poderá tomar financeiramente falando.
No caso da sua empresa uma boa decisão pode ser a diferença entre entrar em dificuldades ou desenvolver de forma sustentável o seu negócio.
Mas como estão os empresários portugueses?
O estudo realizou-se online em agosto de 2021 com uma amostra de 1541 empresas nas quais 73,6% tem gestores masculinos sendo 70,9% empresários há mais de 10 anos.
De salientar que 61% dos empresários que responderam ao inquérito sobre literacia financeira têm formação superior, resultado consistente com o facto de que pessoas com um maior nível de escolaridade são mais recetivas a responder a inquéritos online.
O estudo procurou analisar, para além do nível de literacia financeira dos entrevistados a relação entre esta e o impacto decorrente da crise pandémica e a sua resposta à mesma.
Assim, os resultados foram apresentados quando a:
- Indicador de literacia financeira
- Indicador de digitalização
- Produtos financeiros
- Gestão e planeamento das finanças da empresa
- Impacto da crise Covid-19 e recurso a apoios do Estado

Indicador de literacia financeira dos pequenos empresários
Este indicador agrega os indicadores de conhecimentos, comportamentos e atitudes financeiras dos empresários, sendo o seu valor médio de 78,7 não existindo diferenças entre homens e mulheres.
No entanto os inquiridos com licenciaturas apresentam um valor mais alto, sobretudo se tiverem mais de 40 anos. A mediana situa-se acima dos 82 pontos.
Por outro lado, são mais elevados nos empresários de empresas com 10 a 49 trabalhadores, aumentando por seu lado dentro destes com o volume de negócios.
Em termos sectoriais, empresários das áreas dos serviços às empresas (atividades de consultoria, científicas, técnicas, administrativas e outras) e do comércio por grosso e a retalho registam melhores resultados de literacia financeira
Indicador de digitalização
Também aqui os resultados são consistentes com o nível de escolaridade dos inquiridos e com o número de empregados na empresas.
Em termos sectorial regista-se um menor índice nas empresas de construção e no sector da indústria extrativa e transformadora.
Produtos financeiros conhecidos e contratados pelos pequenos empresários
Quanto aos produtos financeiros os empresários identificaram como mais conhecidos e contratados os seguros de responsabilidade civil (contratados por 49,2% das empresas), os cartões de crédito (46,7%), os empréstimos bancários (45%), e os seguros multirrisco (44,9%).
82,1% dos inquiridos seleciona o produto a contratar depois de comparar várias alternativas. Mas 18,2% referiram que apenas considera as alternativas dentro da instituição de crédito onde tem a conta da empresa.
Ainda quanto ao crédito, apenas 26,3% já contrataram linhas de crédito protocoladas do Estado, embora a generalidade os conheça. Mas se 41,3% referem saber que poderiam financiar a empresa indo ao mercado de capitais, é raro o que segue este caminho.
Já agora é importante referir que a conta de empresa é distinta da conta pessoal em 98,5%. Embora seja uma percentagem alta, esta deveria ser de 100%.
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Gestão e planeamento das finanças da empresa
No tocante a este ponto, a generalidade pede ajuda externa relativamente a contabilidade (68,2%) e impostos (47,7%). 54,8% pede ajuda a contabilistas e mais de um terço recorre a intermediários financeiros ou a familiares ou amigos na tomada de decisões financeiras.
58,4% mentem nas suas mãos o controlo da empresa controlando informaticamente os registos financeiro. Mas cerca de um terço delega o controlo noutra pessoas.
A quase totalidade tem seguros, fundos próprios ou dinheiro reservado para lidar com imprevistos como o roubo de equipamento. No entanto cerca de 5% afirmaram que se tal lhes acontecesse seriam obrigados a fechar a empresa.
O planeamento a longo prazo é uma comum a todos os empresários que confiam mais no planeamento do que no seu instinto. E a prudência nos investimentos é mais um fator comum entre eles, preferindo investimentos de baixo risco a investimentos que pelo risco associado possam de alguma maneira pôr em causa a continuidade da empresa.
Impacto da crise Covid-19 e recurso a apoios do Estado
A crise da Covid-19 teve um impacto negativo nas contas da empresa, quer nos seus lucros (61,7%), quer no seu volume de negócios (60%) ou na sua liquidez (41,8%) tendo a generalidade enfrentado graves problemas de tesouraria nesse período.
Nesse sentido 62,4% responderam que recorreram a apoios do Estado como o lay-off de trabalhadores (32,1%), as moratórias de crédito (25,2%) e as linhas de crédito (24,3%);.
Em conclusão
O nível de literacia financeira dos pequenos empresários portugueses parece ser elevado. No entanto não nos podemos esquecer que por ser online só os que sentem à vontade com este tipo de inquéritos responderam. O que significa que apesar dos bons resultado o investimento na literacia financeira deve e tem de continuar. Só assim será maior a capacidade de gerir de modo eficiente as empresas qualquer que seja a sua dimensão.