Joias e moedas de ouro.

O ouro tem batido novos recordes à boleia da incerteza sobre o futuro. Ativo de refúgio por excelência, o metal amarelo tem conquistado as carteiras dos investidores que ainda não encontraram um fio condutor nos próximos tempos, numa altura em que o mundo assiste à guerra comercial desencadeada pelas tarifas impostas pelos EUA.

Recentemente, a onça de ouro bateu máximos históricos, tendo atingido os 3.167,84 dólares (pouco mais de 2.860 euros à taxa de câmbio atual), mas caiu entretanto ligeiramente.

A escalada do metal amarelo já superou as estimativas das principais casas de investimento, como UBS, Goldman Sachs ou BNP Paribas, que apontavam para que o ouro rondasse até ao final do ano a casa dos 3.000 dólares por onça. Mas as medidas impostas por Donald Trump levaram a que este patamar tenha sido alcançado antes do previsto.

Feitas as contas, desde o início do ano, o ouro já se valorizou em quase 15%. Como aproveitar esta escalada? A velha lição de Finanças ensina que o mercado é incerto, pelo que é impossível saber se o metal amarelo irá continuar a subir ou se irá descer. Resta analisar alguns sinais técnicos.

No entanto, se pretende investir em ouro, estas são algumas das formas de o fazer.

Investir em ouro físico

Uma onça de ouro é uma barra de cantos curvos que pesa 31,10 gramas no sistema troy – o mais utilizado em distribuidores e bancos nacionais – ou 28,35 no sistema avoirdupois – usado para pesar objetos em geral.

Não deve também confundir onças com barras de ouro, dado que estas últimas pesam 12,4 kg, o equivalente a cerca de 400 onças do metal precioso.

Para adquirir uma onça de ouro, pode dirigir-se ao balcão ou à área de cliente de alguns bancos ou a distribuidores especializados. Refira-se que o Banco de Portugal, apesar de ser um grande detentor de barras de ouro, não comercializa este metal.

São também vendidos pequenos pedaços de ouro embalados, assim como moedas, cujos preços começam nos três dígitos. As moedas dedicadas a reinados de monarcas britânicos são um exemplo.

Além dos bancos e de alguns distribuidores, pode também investir em divisas de ouro, através da Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM).

Não só a matéria-prima, mas também a antiguidade da moeda influencia o preço, o que significa que uma moeda de ouro do reinado de Isabel II do Reino Unido pode ser mais cara do que uma moeda com o rosto de Carlos III.

Ao adquirir ouro como um ativo de investimento, certifique-se de que este está certificado, de forma a que, caso queira vender, o consiga fazer com mais facilidade e a um preço mais alto. Uma das certificações mais destacadas é da London Bullion Market Association.

Comprar ouro em ourivesarias

Adquirir joias serve, por norma, para comprar um presente para si ou para os outros. No entanto, há também quem as compre como forma de aproveitar a natureza de porto seguro do ouro.

Ao contrário do que acontece com as barras, onças e moedas, deverá ter em conta quanto da joia corresponde mesmo a ouro. A medida é feita através de quilates. Assim:

  • Uma peça composta por ouro dito “puro” (99,9%) conta com 24 quilates;
  • Uma peça de 18 quilates corresponde a 75% do metal amarelo;
  • O padrão em Portugal para peças com maior percentagem de ouro (80%) é mais exigente do que o critério internacional e equivale a 19,2 quilates.

Quando adquirir uma joia, deve ter alguns cuidados, tais como:

  • Procurar lojas e fabricantes com boa reputação, com certificação da INCM;
  • Confirmar o teor de ouro em quilates e garantir o selo da Casa da Moeda na peça. Esta marca corresponde a uma espécie de “mossa” numa das partes mais discretas da joia, sendo, por norma, acompanhada de um cartão com a descrição da peça.
  • Comparar preços por grama entre várias lojas: Além da cotação do ouro nos mercados internacionais, quando paga uma peça, a fatura inclui o preço do design, da mão-de-obra e dos ajustes ao seu corpo (sobretudo em anéis).

Joias ou barras?

Ao comprar em ourivesaria, recorde-se de que está a comprar uma peça de arte, o que significa que está não só a pagar o preço da matéria-prima, como também o trabalho do ourives, a margem da ourivesaria e os impostos aplicados às peças, incluindo o IVA.

Já no caso das onças, barras e moedas, não se aplica o IVA, de acordo com o regime especial aplicável ao ouro para investimento da União Europeia.

Além disso, não são aplicadas taxas de design e oficinaàs barras, onças e moedas.

Investir em ouro através de fundos e PPR

Além do investimento direto em ouro, pode aplicar o seu dinheiro de forma indireta, através de instrumentos financeiros que também compram o metal precioso ou produtos que replicam o seu desempenho.

Dentro do cabaz de ativos dos Planos Poupança Reforma (PPR), sobretudo dos fundos PPR, é comum encontrar o investimento em ouro ou em instrumentos financeiros que acompanham o desempenho do ouro.

Ainda que esta não seja uma forma de seguir, integralmente, o potencial de subida do ouro, dá um “cheirinho” à sua carteira de investimentos. Assim, deve consultar a ficha informativa de cada PPR e entender se existe ouro no cabaz de ativos e qual o peso dado à matéria-prima.

Leia ainda: O que considerar ao escolher um PPR?

Damos um exemplo: o PPR SGF Doutor Finança, conta com metais preciosos no seu cabaz com um peso alvo de 9,8%, ainda que a maior parte seja composta por ações (78,4%) e obrigações (9,8%).

Outra forma de investir indiretamente em ouro consiste em subscrever unidades de participação de fundos de investimento que, na sua carteira, contem com ouro e ações de empresas que trabalhem na área dos metais preciosos.

Leia ainda: Fundos de investimento: Vale a pena investir?

Ao colocar o seu dinheiro em fundos e PPR, tenha em conta as comissões cobradas, assim como os impostos, e lembre-se de que, no caso dos Planos Poupança Reforma, é preciso reter o dinheiro alocado durante algum tempo, sob pena de ser penalizado num cenário de resgate antecipado.

Leia ainda: Guia sobre PPR: Chega de dúvidas sobre Planos Poupança Reforma

Ações de ouro podem subir (ou cair) mais do que o metal

Outra forma de investir em ouro sem lhe tocar é adquirindo ações de empresas ligadas ao metal precioso, seja porque trabalham na área da mineração, exploração ou produção desta matéria-prima.

Dado que estas empresas têm de apresentar contas, planos estratégicos e também estão dependentes do contexto económico a nível global, não é estranho que os preços dos títulos acabem mesmo por valorizar (ou depreciar) mais do que o preço do ouro.

É o que acontece com algumas das cotadas em bolsa. Por exemplo, a Barrick Gold – a maior mineradora do ouro do mundo, cujas ações se negoceiam no mercado de Nova Iorque – já cresceu mais de 18% para 18,39 dólares por título desde o início do ano.

A subida é ainda mais avassaladora no caso da Newmont Corp – outra mineradora cotada em Nova Iorque -, que já valorizou mais de 20% em bolsa. No entanto, este fenómeno de ouro não se aplica a todas as empresas.

Por exemplo, a mexicana Compañía de Minas Buenaventura (também cotada em Nova Iorque) valorizou 5%, portanto, 10 pontos percentuais abaixo da subida do preço do ouro.

ETF replicam ouro físico e não só

Os fundos negociados em bolsa (ETF, na sigla em inglês) replicam o desempenho de um índice ou de um cabaz de ativos. E há vários ETF de ouro e de ações ligadas ao metal amarelo que são comercializados por corretoras a operar em Portugal.

A grande vantagem deste tipo de investimento é que o preço por unidade de participação é bem mais baixo do que uma onça, barra ou moeda de ouro. Por exemplo, o ETF Invesco Physical Gold A acompanha o preço do ouro físico, custando cada unidade de participação cerca de 265 euros.

Existem também ETF que replicam o desempenho de ações ligadas ao ouro. É o caso do VanEck Gold Miners UCITS ETF. Este produto custa cerca de 45 euros por unidade de participação e replica ações de várias mineradoras, incluindo os títulos da Barrick Gold e da Newmont Corp.

Cuidado: Está a investir em ouro físico ou em futuros?

Em várias corretoras, quando investe em ouro ou em ETF que acompanham o metal, pode estar, na realidade, a aplicar o seu dinheiro em produtos com futuros sobre ouro.

Os futuros são instrumentos financeiros derivados que consistem em contratos em que ambas as partes se comprometem a entregar o ativo subjacente, neste caso o ouro, num determinado período, a um preço pré-determinado. Por norma, este produtos têm prazos curtos de validade, como três a seis meses.

Além da especulação e investimento, estes produtos servem para que os membros do setor possam proteger-se contra potenciais subidas ou descidas do bem com que trabalham. Daí que seja tão comum a negociação de futuros sobre matérias-primas como petróleo ou ouro.

O preço será semelhante ao do bem, pelo que, quando visualizar os preços do ouro na sua corretora ou terminais financeiros, como a Bloomberg, não confunda os preços da negociação do ouro através dos futuros com o preço da matéria-prima física.

Este alerta repete-se no caso dos ETF. Dada a dificuldade e a logística ligada à aquisição de ouro físico, muitas gestoras preferem que estes instrumentos repliquem não o preço do ouro, mas dos futuros sobre o ouro, já que os preços são semelhantes.

CFD sobre ouro: Vale mesmo a pena?

Os contratos por diferença, ou contract for difference em inglês (CFD), são também produtos derivados e exigem um grau de complexidade que envolve especulação entre o preço do ativo agora e a sua cotação no futuro.

É possível ganhar e perder dinheiro com as subidas como com as quedas do ouro, mas nunca terá o metal amarelo – apenas estará a “apostar” nas oscilações do metal precioso, através de um derivado. Se acredita que o ouro vai cair, vende os CFD; se acha que o preço vai subir, compra.

O lucro reside na diferença entre o preço de entrada e o de saída. Assim, se o ouro subir 10% no prazo do contrato, lucrará com essa diferença. Já se vender o CFD e, dentro do prazo, o metal ceder 10%, irá também ganhar dinheiro.

O problema passa pelo facto de ser difícil (se não mesmo impossível) antecipar movimentos de mercado, o que se reflete na percentagem de investidores que perdem dinheiro neste tipo de produtos. Por exemplo, a corretora XTB indica na sua página oficial que “69% das contas de investidores não profissionais perdem dinheiro quando negoceiam CFD”.

Ao adquirir um CFD na sua corretora, verá que pode comprar este tipo de produtos de forma alavancada ou não. Na alavancagem, é-lhe emprestado dinheiro, o que significa que, com 100 euros seus, pode apostar numa diferença de mil euros. Este método pode permitir aumentar os ganhos, mas também aprofundar perdas em valores superiores aos do investimento inicial.

Leia ainda: Produtos financeiros complexos: O que são e que cuidados deve ter

Investimentos