A maior parte dos índices globais apresentavam perspetivas muito positivas no início do ano. O anúncio de tarifas por parte do Presidente dos EUA teve o condão de fazer com que os price targets de índices globais, por parte da maior parte das casas de investimento, tivessem sido reduzidos. A reação dos investidores também não se fez esperar.
Os índices globais corrigiram de uma forma brusca. Contam-se pelos dedos os momentos em que os mercados caíram de uma forma tão forte como nos primeiros dias de abril. A diferença, do momento atual para o passado, é que a queda verificada não teve por trás uma causa ligada à economia. A turbulência que estamos a assistir foi a consequência de uma medida tomada pelo Presidente do país com maior PIB mundial.
Ninguém tem a real noção de qual o estrago que toda esta forma de gerir um país pode criar, nem quais serão os benefícios para o futuro (se é que eles existem!!). Também ninguém sabe até onde poderão chegar as correções dos ativos nos mercados financeiros ou até onde Donald Trump conseguirá suportar a pressão da queda das bolsas americanas.
Leia ainda: Tarifas: Como resistir às oscilações do mercado?
A importância dos mercados financeiros
O atual Presidente dos EUA valoriza muito a performance dos índices americanos. Tanto no seu anterior mandato como no atual, sempre demonstrou uma enorme preocupação com a valorização dos ativos em bolsa. Para Trump, a performance dos índices acionistas americanos é um sinal de robustez e capacidade da economia americana.
Adicionalmente, os planos de poupança de muitos americanos estão assentes em carteiras com muita exposição à classe acionista, o que faz com que os mercados financeiros tenham um papel ativo na vida das pessoas. Outro ponto importante é que, nos EUA, as empresas financiam-se em larga percentagem nos mercados financeiros em detrimento de instituições financeiras. Isto significa que quando as condições se deterioram ou quando os mercados espirram, toda a economia se pode constipar.
Este pequeno pormenor tem uma importância muito relevante, pelo simples facto de que esta crise começou numa decisão de Trump. Num clima de tamanha incerteza, muitos investidores também sabem que o atual cenário pode ser invertido pela mesma pessoa que o criou. Este facto torna todo o contexto ainda mais complexo. Por norma, as empresas, os consumidores ou os investidores tomam decisões tendo por base critérios lógicos e fundamentados.
Com Donald Trump a economia pode oscilar em função de uma mensagem nas redes sociais ou de uma tomada de posição pública extemporânea. O reverso da medalha também será possível, ou seja, de um momento para o outro, Trump com uma palavra ou ação pode retirar muita da incerteza que temos e voltar a melhorar as perspetivas económicas para o ano que falta de 2025.
Da euforia à depressão
O início do ano foi muito positivo para os mercados financeiros. As performances de janeiro e fevereiro foram muito consistentes e as perspetivas económicas continuavam a suportar as expetativas de valorização dos ativos financeiros. Contudo, conforme já mencionei, bastou uma simples tomada de posição do Presidente dos EUA para todo o cenário se inverter. Passámos rapidamente da euforia à depressão.
Os ativos apresentaram correções muito fortes. Muitos deles, num ápice, entraram em bear market (quedas superiores a 20%). A preocupação generalizada substituiu a positividade que fazia com que os mercados não parassem de subir.
Não deixa de ser interessante que a vitória de Trump nas eleições americanas trouxe uma onda positiva que fez com os ativos americanos tivessem disparado. Contudo, foi por uma medida que Trump anunciou que o balão se esvaziou e que os investidores reagiram negativamente.
Realço que os efeitos negativos não se esgotam na enorme queda dos ativos financeiros. O dólar também tem vindo a desvalorizar de uma forma substancial. Esta desvalorização cambial pode ser efeito da expectativa de uma recessão nos EUA, mas também de uma guerra comercial com a China que é um dos maiores detentores de dívida americana no mundo.
De uma forma muito simples, o que tudo isto nos vem provar é que o mundo está cada vez mais conectado e reativo. Nos mercados financeiros a incerteza é sempre o pior que podemos ter.
Aprendemos também que os nossos investimentos devem estar suportados em dados concretos e não em fezadas. Estes momentos de grande instabilidade, para uns são momentos de pânico e para outros são enormes oportunidades tendo em conta o médio/longo prazo.
Todo o contexto que estamos a viver nos últimos meses apenas nos demonstra que a racionalidade deve sempre imperar, que devemos ter a capacidade de separar o ruído da realidade, e que devemos sempre manter os pés bem assentes no chão quando as coisas nos estão a correr bem, caso contrário será muito fácil passar da euforia à depressão.
Leia ainda: Petróleo já desce 25% para os europeus em 2025