A mediação imobiliária em Portugal, para a maioria dos negócios coletivos e individuais, continua uma atividade sem grande estruturação e reconhecimento. Anda como sempre andou, com altos e baixos, focada em dinheiro e não em relação, altamente influenciada pelas tendências e flutuações de mercado e claramente afetada pela capacidade de concretizar um número de transações minimamente previsível e sustentável que é, de resto, a única forma de garantia de remuneração desta atividade.
Entretanto, o mundo vai evoluindo e a tecnologia vai alargando o seu espectro de atuação com a promessa de trazer cada vez mais transparência, negócio e rapidez ao mercado imobiliário com transações mais céleres e uma noção de risco mais clarividente.
Mas…onde é que a mediação tem realmente evoluído nestes últimos tempos em Portugal? Vamos ser sinceros: no cerne, pouco ou nada.
Então, o que poderia de facto fazer com que a atividade mudasse?
Na minha opinião, algumas medidas base:
Licenciamento para agentes imobiliários
Originaria mais transparência e controlo, mostrando quem está efetivamente autorizado a exercer (fim dos agentes “fantasmas” originaria barreiras à entrada e serviria de filtro para avaliação de quem realmente está apto a exercer.
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Divulgação de todas as transações e respetivos valores em tempo real por parte do INE
Originaria realmente mais transparência, mais seriedade, mais confiança, mais planeamento e uma melhor e mais informada atividade e serviço de mediação imobiliária.
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Elaboração, publicação e cumprimento obrigatório de um único código ético, regido e fiscalizado pelo IMPIC
Obrigaria a uma maior consciencialização de atuação e era uma forma comum de reger a atividade e sancionar os incumpridores de forma séria, aplicando-o ao limite de não poderem exercer mais a profissão.
Existência de apenas um contrato de mediação imobiliária para cada cliente, seja ele comprador ou vendedor
Definir-se-ia um único regime contratual com base em exclusividade total, em que só o mediador que detém esse contrato pode divulgar o imóvel ou encontrar um imóvel para o seu cliente, reforçando que essa tarefa é exclusiva, ou seja, o cliente não poderá fazê-la sozinho.
Formação obrigatória e contínua para todos os profissionais da mediação imobiliária
Obrigaria à garantia de conhecimento em áreas fundamentais à atividade e às pessoas que o usufruem: ética; direito imobiliário; avaliação imobiliária; técnicas de construção e mercado imobiliário; serviço e gestão da relação com cliente. Os efeitos seriam evidentes, tanto no conhecimento técnico como no comportamento profissional
Se pensarmos nestes pontos cruciais para esta e mesmo várias outras atividades, fica evidente que a evolução base, além da tecnológica, ainda não teve lugar.
Não podemos esquecer que a evolução não pode ser apenas em número, com mais marcas, agências e agentes, ou só em mais apps. Há sobretudo que evoluir na base do negócio e no que lhe garante maior transparência, confiança e, por isso, qualidade.
Se não existir ou estiver prevista uma maior transparência de dados e regulamentação será difícil existir qualidade e, sem qualidade, sem relação, teremos uma porta aberta para deixar entrar a tecnologia como única interveniente num processo que se foca cada vez mais no transacional e cada vez menos no relacional.
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