jovem homem circula num corredor de um supermercado com o carrinho das compras

A inflação tem um impacto significativo no nosso dia a dia, como deve ter começado a constatar, já que no início de 2022 foram anunciados novos aumentos de determinados produtos. Este aumento, vai afetar a sua carteira, ou seja, o seu orçamento familiar.

A inflação pode ser definida, de forma simplista, como o aumento do preço dos produtos que tem mesmo de comprar durante o mês, sejam eles alimentação, vestuário ou combustíveis.

A face visível da inflação está na ida ao supermercado e no momento em que, por um mesmo conjunto de produtos que costuma comprar, paga mais do que pagou em 2021. Assim, ao subirem os preços dos produtos, se não ocorrer um aumento idêntico do seus rendimentos, vai perder poder de compra. É como o se o seu dinheiro perdesse valor.

Para 2022, a Comissão Europeia prevê que a taxa de inflação se situe perto dos 2%, sendo que esta taxa não é idêntica em todos os Estados-membros. Mas, o Governo português prevê que seja de 1%.

Valores da inflação em Portugal 2021 e 2022

A Comissão Europeia estima que, em Portugal, a inflação se situe nos 0,8% em 2021, em 1,7% em 2022 e 1,2% em 2023 (valores abaixo dos 2% previstos para a zona euro).

Recorde-se que, em 2020, em Portugal não ocorreu inflação, mas sim deflação dos preços. Ou seja, inflação negativa. Tal resultou da redução dos preços dos bens industriais, mas sobretudo do turismo, claramente afetado pela pandemia.

No entanto, a retoma económica iniciada em 2021 trouxe consigo um aumento dos preços.

De facto, a inflação em dezembro último situou-se nos 2,8% influenciada sobretudo pelo aumento dos preços dos produtos alimentares não transformados. O aumento da inflação tem sido uma constante nos últimos meses, situando-se nos 1,5%, 1,8% e 2,6% em setembro, outubro e novembro respetivamente.

Em termos anuais, as previsões do INE – Instituto Nacional de Estatística, apontam para uma taxa de 1,3% em 2021.

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Em que consiste a inflação?

A inflação ocorre quando há uma subida generalizada dos preços de produtos e serviços e não de um artigo específico.

Numa economia de mercado, como a nossa, é natural que pelo efeito da lei da oferta e da procura de produtos e serviços, os preços se alterem. Se, por exemplo, existir uma maior procura de determinado produto, é expectável que o seu preço suba. Mas, se os preços dos produtos com maior procura sobem, os produtos que têm menos procura, mas dos quais existem em grande quantidade à venda, vêm o seu preço descer.

No entanto, em momentos de inflação, os preços sobem independentemente da aplicação dessa lei e essa subida generalizada dos preços verifica-se durante um período de tempo prolongado.

O que determina a inflação?

Para calcular a inflação, tem de ter em conta dois aspetos fundamentais:

  • As famílias têm hábitos de consumo distintos (ou seja, compram um “cabaz de produtos” diferente);
  • No conjunto de produtos que compram no seu dia a dia existem produtos que consomem mais e outros que consomem menos. Por isso, os produtos têm diferentes pesos no seu cabaz de compras. Dito de outra maneira, os produtos em que gastam mais, como a eletricidade, têm um peso maior no seu cabaz do que os produtos que gastam menos.

O cabaz representativo

Para aferir a inflação, o primeiro passo é a definição de um cabaz de produtos representativos do padrão médio de consumo de uma família.

O cabaz de compras engloba um amplo e variado conjunto de bens e serviços, nomeadamente:

  • produtos do dia a dia – produtos alimentares, água, eletricidade e combustíveis;
  • bens duradouros – vestuário e calçado, automóveis, computadores, eletrodomésticos;
  • serviços- renda de casa, seguros, cabeleireiro.

A cada produto aplica-se umas ponderação. Esta, varia de produto para produto (até dentro da mesma categoria) uma vez que, tal como referimos, têm pesos diferentes no orçamento familiar. Logo, têm diferentes pesos no cálculo da inflação.

Como as famílias têm hábitos de consumo diferentes (umas comem carne e outras são vegetarianas, uns têm automóvel e outras só utilizam transportes públicos), a ponderação dada a cada produto é determinada em função do gasto médio de todas as famílias.

Calcular o valor do cabaz em dois períodos distintos

Definido o cabaz, para saber qual a inflação que ocorre entre dois períodos, tem de calcular o valor do cabaz em ambos os períodos.

Só assim vai ter um valor mais aproximado do real impacto do aumento da preços (inflação) nos bolsos das famílias.

conceitos económicos como a inflação e deflação ilustrados com a imagem de uma mão com algumas moedas de euro, remetendo para o poder de compra das pessoas

Calcular a inflação

A inflação é medida pela taxa que indica a percentagem de aumento de um cabaz de produtos num determinado momento, face ao momento anterior. Este cálculo, realizado mensalmente, está a cargo do INE – Instituto Nacional de Estatística.

Assim, a inflação é dada pela variação do IPC – Índice de Preços no Consumidor de mês para mês. Desta forma, para se calcular a inflação divide-se o custo do cabaz de compras em dado período pelo custo do cabaz no período-base e multiplica-se o resultado por 100.

Exemplo:

Pensando num cabaz de compras representativo da despesa anual de uma família com um filho, estas despesas podem corresponder a: renda da casa, alimentação, transportes, vestuário e calçado.

Se quisermos fazer o cálculo anual, pensamos que, no ano zero o custo deste cabaz foi 2000 euros, no ano seguinte foi de 2050 euros para os mesmos produtos, a taxa de inflação é de 2,5%

Inflação para o ano 1 = (Custo do cabaz no ano 1 – Custo do cabaz no ano 0)/custo do cabaz ano 0 x 100 = (50€ / 2000€) x 100 = 2,5%.

Índice de preços ao consumidor

O índice de preços ao consumidor tem como objetivo medir as alterações no custo de vida. Isto é, o valor que temos de gastar ao longo do tempo para manter um determinado nível de vida.

Voltando ao exemplo anteriormente apresentado. Vamos tomar o ano zero como o ano base que vai servir de referência para o cálculo do IPC. Assim, o valor de base será 2.000 euros

No ano 1, o IPC é calculado da seguinte forma : (Cabaz ano 1 / cabaz ano base) x 100.

Ou seja, IPC do ano 1 será 2050/2000x 100= 102,5.

A interpretação a dar ao IPC, neste caso, é a seguinte: no ano 1 pode comprar-se com 102,5€ o mesmo que no ano base se comprava 100,0€.

As diversas taxas de inflação

Existem várias taxas de inflação, pelo que é importante conhecer o seu significado. Sendo que, a taxa de inflação homóloga, é a mais utilizada.

Inflação Mensal: traduz a variação dos preços entre dois meses consecutivos. Permite um acompanhamento corrente da evolução dos preços.

Inflação Homóloga: traduz a variação dos preços do cabaz representativo entre o mês corrente e o mesmo mês do ano anterior.

Variação média dos últimos doze meses: compara a inflação média dos últimos doze meses com a dos doze meses imediatamente anteriores.

Como interpretar a taxa de inflação?

Se a taxa de inflação estiver entre 0% e 1%, significa que os preços ficaram praticamente na mesma. Mas, se for superior a 2%, estamos num período de inflação, o que pode ser mais difícil controlar.

Se a taxa for negativa, significa que houve uma deflação. Ou seja, os preços do período em questão diminuíram em relação aos preços verificados no período utilizado para comparação. 

Inflação leva à redução das poupanças

A inflação pode “roubar” valor às suas poupança se estas não estiverem aplicadas. Se tiver o seu dinheiro numa conta à ordem, que não lhe paga juros, equivale a guardar o dinheiro em casa. Assim, pondere e estude a melhor forma de aplicá-lo em produtos com taxa de juro, pelo menos, idêntica à taxa de inflação.

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Deflação é tão nociva quanto a inflação

Apesar da deflação se traduzir na redução de preços, o que à primeira vista poderia ser positivo, de facto tal não acontece se persistir. A longo prazo, o impacto da deflação pode ser tão prejudicial quanto a inflação

Assim sendo, o primeiro efeito da deflação é a subida do poder de compra das famílias, uma vez que com o mesmo dinheiro passam a poder comprar mais produtos. Se for temporária, a deflação pode ser positiva e dar um maior fôlego financeiro às famílias.

No entanto, se a deflação persistir pode afetar negativamente as famílias e a economia. Na expectativa que os preços continuem a descer, as famílias adiam as suas compras, o que acaba por ser nefasto para a economia: as empresas vendem menos, reduzem o investimento e o pessoal, como forma de compensar a queda nas receitas. Com menos dinheiro, as famílias tendem a comprar ainda menos.

Assim, o ideal para fomentar o desenvolvimento económico é uma taxa de inflação positiva e baixa.

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