Já reparou como duas pessoas com salários muito semelhantes podem ter vidas financeiras completamente diferentes? Ambas podem ganhar 1.300 ou 1.500 euros por mês e uma acumula dinheiro e constrói uma vida confortável, enquanto a outra vive sempre no limite ou endividada.

O curioso é que a diferença não está no rendimento, mas na forma como gere o que ganha. Veja como pequenas diferenças de comportamento podem fazer toda a diferença no seu futuro financeiro.

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O problema não é o salário

A menos que estejamos a falar do salário mínimo nacional ou de rendimentos muito, muito baixos, o mais importante não é quanto entra em sua casa todos os meses. É o que faz com esse dinheiro.

Se não tiver algumas noções básicas de como o dinheiro funciona, o mais provável é gastar tudo — e às vezes até mais do que o que recebe. Eu era assim: não gastava mais do que ganhava, mas gastava tudo o que ganhava – e vivia confortável com isso.

Depois aprendi a lição quando a vida me trocou as voltas. Agora, quem domina os princípios básicos de literacia financeira sabe que:

  • Antes de gastar, é preciso poupar.
  • Antes de comprar, é preciso comparar.
  • Depois de comprar, é preciso renegociar.
  • Antes de investir, é preciso estudar.

Depois de perceber estes conceitos básicos, a minha vida financeira mudou e tornei-me um jornalista especializado em finanças pessoais. Não por gosto, mas por necessidade. Eis algumas das coisas que aprendi e que quero partilhar consigo.

O perigo do prazer imediato

A tentação de gastar no presente é enorme. Compramos para nos sentirmos bem e, muitas vezes, para mostrar aos outros. A psicologia explica este fenómeno. Só que essa satisfação é passageira. O que fica são as prestações, os juros e o stress financeiro.

Quem quer enriquecer – ou apenas viver melhor – precisa aprender a adiar a recompensa: guardar agora para ter mais liberdade lá à frente. Eu posso endividar-me a fazer um crédito automóvel para comprar o carro dos meus sonhos, ou poupar e investir e comprar a pronto o mesmo carro daqui a alguns anos, não vivendo sufocado durante quase uma década e poupando muitos milhares de euros.

Dívidas: O grande inimigo invisível

Antes de pensar em poupar e investir dinheiro, liquide as suas dívidas com juros mais altos. Caso contrário, vai trabalhar toda a vida para pagar juros. É importante que saiba que os seus colegas, vizinhos e familiares que têm carros, casas e férias maravilhosas, muito provavelmente têm dívidas monstruosas (mas essas eles não mostram no Instagram).

Semeie para colher

Comece pequeno. Investir 100 euros (ou 50) todos os meses, com regularidade e paciência, pode fazer uma diferença gigantesca no seu futuro.

O truque é simples:

  • Comece já
  • Invista consistentemente
  • Dê tempo ao tempo

Juros compostos são o que Albert Einstein chamou – dizem – de “a força mais poderosa do universo”. Se disse mesmo, ele não estava a brincar. Eu, passados 6 anos desde que comecei a investir com regularidade, já estou a sentir esse efeito no meu património, com resultados muito interessantes.  

Só para lhe dar um exemplo, apesar da crise nos mercados causada pelas tarifas do presidente Trump, ainda estou a ganhar mais de 60% com os meus investimentos feitos durante a pandemia da Covid-19.

Naturalmente, ganhos passados não garantem ganhos futuros, mas mostram como a consistência compensa — mesmo em tempos difíceis.

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Uma regra simples para organizar o seu orçamento

Se não sabe por onde começar, aqui fica uma fórmula prática:

  • 50% para despesas básicas (casa, luz, comida)
  • 30% para lazer e bem-estar (cinema, viagens, hobbies)
  • 20% para investimento e poupança (o seu futuro)

Esta divisão não é uma prisão, mas um guia para evitar que gaste tudo sem se aperceber. Em Portugal, sugiro aumentar as despesas básicas para 60% e – com pena minha – reduzir a parte do investimento de 20 para 10%. O importante é começar e depois vai aumentando.

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Não viva para os outros

Outra razão para muitos empobrecem em vez de enriquecerem é entrarem no ciclo das aparências: comprar o carro do ano, viajar para mostrar no Instagram, viver em casas que mal conseguem pagar.

Lembre-se: sucesso financeiro não é aquilo que se vê; é a liberdade de pode fazer escolhas sem medo de o dinheiro não chegar ao fim do mês. 

Viva de acordo com a sua realidade, e não com as expectativas dos outros.

Experimente fazer isto nos próximos dias:

  1. Pegue num papel ou numa folha de Excel
  2. Escreva tudo o que ganha e tudo o que gasta num mês
  3. Veja quanto sobra — ou se está a gastar mais do que ganha
  4. Escolha um pequeno valor (nem que seja 10 euros) para começar a investir ou poupar para o fundo de emergência ou para a sua reforma
  5. Repita no mês seguinte

É um pequeno passo. Mas pequenos passos, dados consistentemente, levam muito mais longe do que grandes saltos dados de vez em quando.

Em resumo, a diferença entre quem enriquece e quem empobrece, com os mesmos rendimentos, chama-se escolhas. E as suas próximas escolhas podem mudar a sua vida financeira. Que tal começar hoje?

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