Intermediação de crédito, habitação, tendências geoeconómicas, seguros, inteligência artificial, crise na habitação e liderança deram o mote de arranque à primeira convenção da Rede Doutor Finanças. Um encontro que juntou mais de 300 participantes, no Hotel Tivoli Kopke, em Vila Nova de Gaia, durante os dias 6 e 7 de maio.
O primeiro dia de convenção arrancou com Nuno Leal, co-CEO do Doutor Finanças, que recebeu a plateia, enfatizando a importância que este dia tem para o Doutor Finanças, que espera ser “épico”. Acreditando que vai ser um “dia de partilha”, Nuno Leal admitiu que “gostava que saíssemos daqui a pensar como podemos melhorar o bem-estar financeiro das pessoas.”

Seguiu-se o administrador da Rede Doutor Finanças, Cláudio Santos, que partilhou os resultados obtidos em 2024. Em números redondos, no ano passado, foram mais de 5.600 as famílias que a Rede Doutor Finanças ajudou.
Hoje, são já 57 as lojas Doutor Finanças que, ao longo de 46 concelhos “pintam o país de azul”, adiantou o administrador da rede.
Cláudio Santos acrescentou também que 2025 é um ano de somar e levantou a ponta do véu sobre os próximos passos. “Mais visibilidade, mais proximidade, mais apoio, mais reconhecimento, mais ferramentas e recursos, mais formação, mais produtos e novas parcerias” vão marcar a Rede Doutor Finanças este ano.
A nova era da intermediação e a importância da literacia financeira
A primeira mesa-redonda reuniu parceiros da banca. Luís Brites dos Santos, do Banco CTT, Sandra Ramos Dias, do Novo Banco, e Paulo Figueiredo, da Cofidis, juntaram-se para discutir a nova era na intermediação de crédito.

Uma era marcada pela digitalização do serviço, que se torna essencial quando o tema é a literacia financeira, mas sem esquecer o toque humano. O diretor comercial da Cofidis, Paulo Figueiredo, defendeu que entre o “equilíbrio digital e humano é o caminho claro e de sucesso” para tirar Portugal da cauda da Europa, no que toca ao conhecimento sobre finanças.
Apesar de reconhecer que existem clientes com capacidade de “estudar” antes de tomarem decisões financeiras, Luís Brites dos Santos, diretor de Crédito à Habitação do banco CTT, admitiu que ainda “há pessoas que precisam de apoio” nesta área. O orador salienta que estas pessoas podem estar mais expostas à desinformação através das redes sociais, considerando-as mesmo como “concorrentes dos intermediários de crédito.”
O trabalho desempenhado pelos intermediários de crédito foi enaltecido por todos os oradores durante este painel, que reconheceram que estes acabaram por ocupar algumas tarefas, que antes pertenciam à banca, incluindo a literacia.
Sandra Ramos Dias, head of banking partnerships do Novo Banco, referiu mesmo que houve uma decisão consciente de deixar “espaço para que outros tomassem o lugar que era tradicional da banca”.
Quais são os “maiores desafios da Europa”?

A conferência continuou com Paulo Portas, ex-vice-primeiro-ministro, numa intervenção sobre as tendências geopolíticas e geoeconómicas num mundo em mudança.
Paulo Portas trouxe para a discussão aqueles que considera serem os maiores desafios que a Europa enfrenta no dia de hoje, que podem representar ameaças sérias para o futuro da economia e das populações europeias: demografia, competitividade e inovação.
Porém, na opinião do antigo vice-primeiro-ministro estes “desafios não são irreversíveis”, sendo que aquele que exigirá mais tempo para reverter é a evolução demográfica.
Paulo Portas debruçou-se ainda sobre a economia das duas maiores potências do mundo – Estados Unidos e China -, quer no que toca ao seu crescimento como à forma de inovar. O ex-vice-primeiro-ministro reconheceu que a Europa se deixou ficar para trás e que é necessária uma política de incentivo que envolva quer o setor público, quer o privado.
Numa mensagem de otimismo, o antigo governante saudou ainda a decisão de Portugal estar a criar uma disciplina de literacia financeira para enriquecer os currículos de educação. “Países com literacia financeira não vão à falência”, defendeu.
“Não se pode pensar em seguros sem tecnologia”
À tarde foram retomados os trabalhos, com um painel dedicado aos seguros. “Promoção de uma cultura de prevenção” foi o tema em cima da mesa. Um painel que juntou Luiz Ferraz, da Prevoir, Maria Graça Ferreira, da Real Vida, e Rui Costa, do Doutor Finanças Seguros.
Marta Graça Ferreira, CEO da Real Vida, reconhece as mudanças que aconteceram no setor desde a pandemia, afirmando que nos dias de hoje já “não se pode pensar em seguros sem tecnologia”, acrescentando que para se fazer um seguro de vida, o cliente “já nem assina um papel.”
Com um serviço que nasceu digital, Rui Costa, administrador do Doutor Finanças Seguros, garante que o toque humano não é esquecido. “Queremos estar ao lado das pessoas”, afirmou o responsável, reforçando a importância de “ouvir o cliente” para conseguir promover o seu “bem-estar futuro.”
Este equilíbrio entre o digital e a proximidade humana é reconhecido também por Luiz Ferraz, Mandatário Geral da Prévoir em Portugal, que caracterizou o serviço do Doutor Finanças como uma “ferramenta de humanização.”
Luiz Ferraz acrescenta ainda que “é preciso escravizar as tecnologias”, em nome, não só dos clientes, como do bem-estar dos trabalhadores, referindo-se à agilização dos processos.
Sonhar para acontecer e decifrar para conquistar
A convenção da Rede Doutor Finanças contou também com a presença de Roberta Medina, vice-presidente do Rock in Rio, e Alexandre Monteiro, profiler, palestrante e autor, para momentos de inspiração.

Roberta Medina trouxe até aos participantes um pouco da história daquele que é um dos maiores festivais do mundo. Atualmente, o Rock in Rio é um sucesso internacional, com 24 edições realizadas: 10 no Rio de Janeiro, 10 em Lisboa, três em Espanha e uma nos Estados Unidos. Mas Roberta Medina não deixou de partilhar alguns dos vários contratempos que marcaram a história do festival.
Duas mensagens marcaram a sua intervenção: da necessidade podem nascer soluções inusitadas e nada é impossível.
Seguiu-se Alexandre Monteiro, autor do livro “Decifrar e conquistar clientes”, que se debruçou sobre a importância da “boa comunicação” quer em equipa, quer com clientes.

Perante uma audiência bastante participativa, o palestrante defendeu que “energia é poder” e deu algumas dicas sobre como comunicar de forma eficaz.
Inteligência artificial: “Temos de aprender a reaprender”
O toque tecnológico foi dado por Rogério Canhoto, administrador da PHC Software . Sob o tema “O Impacto da Inteligência Artificial: Como Vender Mais, Melhor e Mais Rápido“, Rogério Canhoto lançou logo dúvida junto da plateia.
“Quando me perguntam se vão perder o emprego para a IA, a resposta que dou é “não”. Mas que o vão perder para quem utilizar melhor a inteligência artificial”, começou por partilhar o administrador da PHC Software.

O orador afirmou que a “revolução digital” que está a acontecer” se deve a quatro fatores: há mais informação disponível, a tecnologia que suporta a inteligência artificial está cada vez mais acessível, existe democratização das ferramentas digitais e a procura de aplicações não é crescente.
Defendendo que a “omnipresença da inteligência artificial” coloca “maior pressão da produtividade”, o administrador da PHC deixou claro que é preciso entender como aplicar esta tecnologia nas nossas vidas, sem nunca deixar de dar o nosso “cunho pessoal.”
Numa ótica de aplicação da inteligência artificial na gestão dos negócios, Rogério Canhoto partilhou exemplos de como se podem usar ferramentas com esta tecnologia para desempenhar tarefas do nosso dia-a-dia.
O orador, que vê a inteligência artificial como um agente facilitador, defende que “independentemente do setor, temos de nos adaptar”, refere. “Temos de aprender a reaprender”, reforça.
“Acabámos o dia de hoje com uma visão de futuro”

O primeiro dia de trabalhos da 1.ª Convenção da Rede Doutor Finanças encerrou com uma mensagem do chairman Rui Pedro Bairrada, que, emocionado, fez um resumo do dia, que se estendeu para momentos de networking e convívio.
“Acabámos o dia de hoje com uma visão de futuro. Se todos estivermos juntos, vamos todos chegar mais longe”, rematou o fundador do Doutor Finanças.
O futuro passa por compromisso, aprendizagem e sinergias
O segundo dia de convenção arrancou com Vanda de Jesus, co-CEO do Doutor Finanças há quatro meses, que revelou sentir-se “em família desde o primeiro dia”. A responsável recordou frases inspiradoras que “marcaram o dia de ontem” e deixou ainda a mensagem de que a missão do Doutor Finanças é chegar a 90% da população, sem nunca descurar da qualidade.
“A quantidade não se vai sobrepor à qualidade”, salientou Vanda de Jesus, que mais tarde voltou a subir ao palco juntamente com Nuno Leal para dar nota daqueles que serão os próximos passos da Rede Doutor Finanças.
Os líderes deixaram seis palavras para trilhar o futuro: “compromisso, aprendizagem, sinergias, marca, tecnologia e somar.”
A manhã do dia 7 de maio contou ainda com um painel sobre a crise na habitação, que reuniu António Ramalho, gestor e ex-CEO do Novo Banco, Marina Gonçalves, ex-ministra da Habitação, e Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Portugal e Espanha. A marcar presença esteve também o Almirante Gouveia e Melo, que trouxe à plateia o tema da liderança.
Crise na habitação: Verdade ou mito?
António Ramalho iniciou a sua intervenção de uma forma, na sua ótica, “polémica”. O antigo responsável do Novo Banco admitiu que “não existe uma crise na habitação”, mas sim um “conjunto de subcrises”. Nomeadamente o “imobilismo da poupança de quem tem casa própria”.

O gestor partilhou que em Portugal, “a maior taxa de poupança é aplicada em habitação”. Quer isto dizer que “as pessoas endividaram-se, pagaram a casa e têm-na agora como poupança. Os portugueses são hoje muito ricos patrimonialmente, mas não têm cash flow.”
Em resposta, Marina Gonçalves notou que a habitação não deve ser olhada apenas como um ativo e destaca a “função social” que esta tem. “O que existe é uma crise no acesso à habitação”, acrescentou. A deputada do PS revela a necessidade de se criarem políticas públicas que apostem em ferramentas para tornar a oferta acessível.
Todos os oradores concordaram que o tema da habitação é ter uma dimensão emocional acrescida para o povo português. “Muito do problema do acesso à habitação vem do sentimento que significa ter uma casa para as pessoas”, afirma Ricardo Sousa da Century 21, que adiantou que aqueles que procuram casa têm vindo a alargar o raio de pesquisa e a reduzir o tamanho das habitações. “Temos de ser pragmáticos”, afirmou.
Apesar de o mercado estar em mudança, Marina Gonçalves deixou a nota de que as políticas públicas devem ter em conta a dimensão cultural e de identidade das cidades. “Não podemos dizer à classe média que não pode viver nas cidades.”
“Não basta ter visão para ser líder”

O Almirante Gouveia e Melo partilhou com a plateia quais são as principais características que um líder deve ter. Além de “capacidade para ver o futuro”, o ex-chefe do Estado Maior da Armada, referiu que “não basta” e que é necessário alinhara valores e, sobretudo, “coerência.”
Henrique Gouveia e Melo falou da importância da comunicação de um líder, dando o exemplo de quando assumiu a coordenação da task force para a Elaboração do Plano de Vacinação contra a Covid-19 em Portugal. E defendeu que as crises de liderança se ultrapassam com comunicação, definição de prioridades e apresentação de resultados.
“A liderança exige resultados e sem resultados não há liderança“, reforçou o Almirante, que deixou também o alerta: “desconfiem sempre das lideranças que dizem que amanhã [um problema] está resolvido”.
Houve ainda espaço para perguntas do público e no ar ficou que “há esperança” quanto ao tema da sua corrida a Belém. O Almirante Gouveia e Melo partilhou que se está a” preparar e o seu lema pode ser ‘por todos os portugueses, com todos os portugueses'”.
E foi de bata vestida que Rui Pedro Bairrada subiu ao palco para encerrar aquela que foi a primeira convenção da Rede Doutor Finanças. Num balanço emotivo destes dois dias, o chairman do Doutor Finanças, disse sentir-se grato por ter ao seu lado “as pessoas certas” que permitem “um crescimento em conjunto”. O evento terminou com a Comissão Executiva a subir ao palco para aplaudir a audiência.