“Até aos 20 anos, odiava o Rock in Rio.” Foi com esta frase surpreendente com que Roberta Medina abriu a sua palestra na 1.ª Convenção da Rede Doutor Finanças, que decorre de 6 a 7 de maio, em Vila Nova de Gaia. A explicação veio depois, à medida que a vice-presidente do Rock in Rio foi percorrendo os principais marcos dos 40 anos de história do festival.
Idealizado em 1984 pelo pai de Roberta, Roberta Medina, um publicitário que não apreciava rock nem tinha o hábito de ir a festivais de música, o Rock in Rio “foi criado para dar voz a uma juventude que buscava liberdade de expressão” na reta final da ditadura militar, que terminaria em março de 1985. O outro grande objetivo era promover o Brasil, levando ao país os grandes nomes da música internacional.
Para Roberta Medina, a pouca familiaridade do pai com os festivais de música, articulada com a sua visão de publicitário, conjugaram-se para formar um evento diferente e inovador. O papel dos patrocinadores passou a ser fundamental e a atenção deixou de estar apenas no palco. “O Roberto percebeu que cada show era uma experiência única e irrepetível e iluminou a plateia, que se tornou o grande espetáculo”, disse a vice-presidente do Rock in Rio.
Uma coisa chamada IVA
Hoje, o festival é um sucesso internacional, com 24 edições realizadas: 10 no Rio de Janeiro, 10 em Lisboa, 3 em Espanha e uma nos Estados Unidos. Mas Roberta Medina não evitou as menções a alguns dos vários contratempos que marcaram a história do festival. Como o “desastre empresarial” que foi a primeira edição, em 1985, devido a um embargo à Cidade do Rock. “O prejuízo foi gigantesco. Eu tinha 7 anos e passei a detestar o festival”, admitiu a empresária.
Este sentimento só se começou a alterar a partir da terceira edição, em 2001, quando a organização passou a integrar uma forte componente social no festival, passando a adotar o lema “Por um mundo melhor”.
Em 2004, surgiu um novo desafio: a organização do primeiro Rock in Rio fora do Brasil. Roberta Medina admitiu que, inicialmente, a própria organização olhou para a chegada a Lisboa com uma hipótese remota que não se concretizaria.
Mas tudo se alterou ao conhecer o espaço para o festival, e o Rock in Rio Lisboa avançou mesmo. Até que, já durante o evento, a organização descobriu que, em Portugal, existia “uma coisa chamada IVA”. O valor de imposto que havia a pagar correspondia, grosso modo, ao valor de prejuízo que o festival geraria. A solução para cobrir o “buraco” foi conseguir obter o compromisso de alguns parceiros a participar na segunda edição do Rock in Rio Lisboa, antecipando algumas receitas.
Uma faísca de inovação de como construir um mundo melhor
Ficava assim demonstrada, mais uma vez, a importância dos parceiros. Esta foi, aliás, uma das mensagens-chave de Roberta Medina: o sucesso do Rock in Rio depende de todos os parceiros, incluindo os artistas, os patrocinadores, o público, os fornecedores, a cidade e todas as outras partes envolvidas de forma mais direta ou indireta. “Um problema para qualquer um destes parceiros é um risco para o nosso negócio. Isto tem uma potência e uma beleza muito claras”, disse Roberta Medina.
Para a vice-presidente do festival, “a Cidade do Rock é como um grande laboratório”. “Trabalhamos com um negócio que faz sonhar. A Cidade do Rock mostra que um mundo melhor é possível, com respeito pela diferença de opinião política, pelo género, pela raça”, referiu Roberta Medina.
“O ser humano é do bem, se bem tratado. A nossa obrigação enquanto empresários é fazer bem, sabendo que o bem-estar do vizinho também é nossa responsabilidade”, disse ainda a vice-presidente do Rock in Rio, deixando um desejo: “Que sejamos uma faísca de inovação de como construir um mundo melhor para todos.”